Amós 3:6

A relação entre a vontade divina e as desgraças humanas

A passagem bíblica que questiona se uma cidade pode sofrer uma desgraça sem que Deus a tenha ordenado é encontrada no livro de Amós, um dos profetas menores do Antigo Testamento. Amós era um pastor de ovelhas e agricultor que foi chamado por Deus para profetizar contra o reino de Israel, que estava em um período de prosperidade econômica, mas também de grande injustiça social e religiosa.

No capítulo 3 de seu livro, Amós começa a apresentar uma série de acusações contra o povo de Israel, afirmando que eles foram escolhidos por Deus para serem seus filhos, mas que também deveriam ser responsáveis por suas ações. É nesse contexto que surge a pergunta retórica sobre a relação entre a vontade divina e as desgraças humanas.

A imagem da trombeta tocando na cidade é uma referência ao sistema de alerta que existia na época para avisar sobre a aproximação de inimigos ou outras ameaças. Amós usa essa metáfora para questionar se as pessoas não se assustam quando ouvem o som da trombeta, e se não reconhecem que isso é um sinal de que algo ruim está prestes a acontecer.

A resposta implícita na pergunta de Amós é que, sim, as pessoas tremem quando ouvem a trombeta, porque sabem que algo está errado. Mas ele também sugere que muitas vezes as pessoas não percebem que as desgraças que acontecem em suas vidas são consequência de suas próprias escolhas e ações, e não apenas de uma vontade divina arbitrária.

Ao longo do livro de Amós, o profeta denuncia a corrupção dos líderes políticos e religiosos de Israel, que exploravam os pobres e oprimiam os fracos. Ele também critica a religiosidade superficial do povo, que fazia rituais e oferendas sem realmente buscar a justiça e a misericórdia que Deus exigia.

Assim, a pergunta de Amós sobre a relação entre a vontade divina e as desgraças humanas é uma forma de chamar a atenção para a responsabilidade que cada pessoa tem diante de Deus e dos outros. Não se trata de uma afirmação fatalista de que tudo o que acontece é vontade de Deus, mas sim de um convite à reflexão sobre como nossas escolhas e ações afetam a nós mesmos e aos outros.

Hoje em dia, a pergunta de Amós continua relevante para nós, que vivemos em um mundo cheio de desafios e incertezas. É fácil culpar Deus ou o destino por nossas desgraças, mas talvez seja mais produtivo olhar para dentro de nós mesmos e ver o que podemos fazer para mudar as coisas. Como disse o próprio Amós em outro trecho de seu livro: "Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e assim o SENHOR, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis" (Amós 5:14).